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sábado, 8 de maio de 2010

O negro e o Brasil do século 19- sobre as gravuras de Rugendas

Rugendas foi um dos grandes pesquisadores que nos deixou uma vasta imagem do que foi o Brasil do Século 19. Em suas gravuras podemos visualizar manifestações do cotidiano de um Brasil "pitoresco".
E sobretudo, podemos ter uma idéia bem clara da origem de diversas manifestações culturais afrodescendentes presentes hoje no Brasil. Suas gravuras refletem reuniões, confraternizações de escravos, vigiadas ou não por feitores e jagunços, a mando dos senhores de engenho.
Essas reuniões eram chamadas genericamente de "batuque", nesse ambiente os negros se sentiam seguros, mesmo que sob a vigilância constante, para praticar suas festas e rituais, e disfarçadas em dança, suas lutas trazidas da África. Tais comemorações eram permitidas pelos senhores para que o negro se distraísse e, aliviado do estresse do trabalho exaustivo, não pensasse em se rebelar. O ambiente servia também para misturar as culturas, uma vez que como forma de dominação, os escravos eram comprados cada qual de regiões diferentes, para evitar ao máximo possíveis rebeliões - essa receita porém, não mostrou funcionar tão bem, já que, traçando formas mais eficientes para se defender e lutar, oriundas justamente dessa mistura, os negros fugiam, se rebelavam, resgatavam seus irmãos para os Quilombos, e, também culturalmente, se mantinham resistentes a dominação que tentavam lhe impor.
Nas gravuras de Rugendas, encontramos os princípios da Capoeira. Esboços das primeiras rodas, movimentos e golpes, que se assemelham ainda com a luta dos dias dias de hoje. Podemos verificar também a presença da musicalidade, atributo de quase todas as manifestações africanas, que acompanha a capoeira desde os seus primóridios. A presença da mulher e o caráter lúdico das reuniões, é também uma forte característica observada. Daí, também se originou a extinta luta conhecida como batuque e é o princípio do samba.
Esse tipo de reunião, não acontecia somente no Brasil. Em todos os países onde houve a diáspora africana, encontramos registros semelhantes, e em todos eles, foi deixada como herança manifestações semelhantes ao samba e a capoeira.
Se observarmos a forma de organização desses encontros, podemos notar que sempre acontece a formação de uma roda, no entorno da qual estão os instrumentistas e o meio fica livre para dançarem ou lutarem. É a mesma organização que se encontrava na luta do batuque, extinta na primeira metade do século 20, e se vê ainda hoje na Capoeira e nas rodas de samba.
As gravuras nos mostram a matriz de uma futura sociedade brasileira fortemente marcada pelo trabalho e pela festa. Ao observarmos as gravuras, notamos o espírito festivo do negro, a sua forte performance corporal e musical, elementos que também formam a "personalidade" da cultura brasileira.

Jogar Capoeira ou Dança da Guerra - 1835 (Reprodução - Johann Moritz Rugendas. Viagem pitoresca através do Brasil. 

Jogar Capoeira ou Dança da Guerra - 1835 (Reprodução - Johann Moritz Rugendas. Viagem pitoresca através do Brasil.)


(Soldado Capoeira)

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