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domingo, 8 de agosto de 2010

Zé Pelintra e a Capoeira

Não é segredo pra ninguém que boa parte da cultura brasileira descende da mãe África. Observamos na religiosidade, na música, na comida, nos costumes, etc..., uma forte influência daqueles que vieram ao Brasil como escravos e acabaram por se misturar aos outros habitantes, nativos ou não, para formar o povo que hoje chamamos de brasileiro.
Por isso, podemos dizer que a capoeira, o samba, o maracatu, a capoeira, a umbanda e o candomblé, o frevo e tantas outras manifestações culturais são fruto dessa mistura, algumas mais influenciadas pelo lado indígena, outras pelo lado europeu, a maioria delas pelo lado africano. A miscigenação criou uma cultura mestiça.
Na Umbanda, por exemplo, encontramos Zé Pelintra que é um forte exemplo dessa mestiçagem: o malandro, negro de terno branco e punhal de aço puro, mestre do Catimbó (um culto nordestino de origem indígena), sambista e capoeirista. É um fiel representante de uma cultura africana resistente e sobrevivente em solo brasileiro. Nordestino ou carioca, praticante do Catimbó, da Umbanda ou do Candomblé, anda sempre com suas guias dedicadas a seu Orixá no pescoço - diz-se em um de seus mais famosos pontos da Umbanda e Catimbó, que "foi criado por Ogum Beira-Mar, em nome de Deus e de todos Orixás". Na aba de seu chapéu, encontramos ainda uma pena vermelha, uma homenagem ao Orixá mensageiro Exu.



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Zé Pelintra e Mestre Leopoldina: o mestre era um grande devoto de Seu Zé


Seu Zé, como é carinhosamente chamado por seus admiradores, é também um conquistador nato. Conhecedor da noite e dos perigos da vida, anda sempre com seu lenço no pescoço e sua navalha alemã no bolso.

Não é preciso ser capoeirista para saber que muito dessa personalidade de Seu Zé, está ligada também à personalidade histórica do capoeirista. Se retornarmos para um segundo momento na história da capoeira, pós-abolição, vamos encontrar entre os praticantes da arte justamente os malandros, que, sendo exímios capoeiristas, sabiam como escapar de qualquer perigo e estavam sempre atentos ao caminhar pelas ruas. Os capoeiristas também sempre foram "conquistadores natos" do mulherio.
Ainda que afirmar isso nos idas de hoje seja tão polêmico, era no passado também muito natural que os praticantes da capoeira fossem praticantes de alguma religião afrobrasileira, uma vez que essas religiões estão fortemente ligadas ao universo de onde eles e a própria capoeira vieram. Mais do que uma simples prática, a religiosidade do povo africano não é apenas vivida no espaço de um terreiro ou um templo, é algo levado para o dia a dia, não é só uma religião, mas também uma forma de viver e de ver o mundo. E se hoje o preconceito é grande, imagine então naquela época...



Um pouco mais a frente na história, encontramos entre os angoleiros figuras tão malandras quanto Seu Zé, principalmente na capoeira Angola, onde os malandros chegavam em seus ternos impecáveis, chapéu de lado, e jogavam sem que uma mancha de poeira sequer maculasse o branco de suas roupas.



Vários pontos do malandro Zé Pelintra tratam de sua relação com a capoeira, como esse:



"moça não tenha medo do seu marido
se ele é bom na faca, eu sou no facão
se ele é bom na reza, eu na oração
se ele bate em cima, eu vou na rasteira
sou da capoeira"



Tais pontos - ponto é como se chama uma cantiga na Umbanda - falam do mundo de Seu Zé, um mundo cheio de perigos, mas também cheio de diversão. Tal qual a capoeira: numa roda um capoeirista pode se divertir, mas sabe dos perigos que enfrentará. E é aquele que melhor usar a malandragem que conseguirá se sair melhor na roda, escapando das rasteiras e das investidas "na maldade", como se diz na capoeira, dos outros jogadores.

A tão famosa "mandinga", uma energia quase palpável na capoeira, que todo capoeirista já sentiu, é uma energia herdada dessa época em que era preciso mais do que esperteza e habilidade no jogo, mas também - opinião própria - uma proteção espiritual para o capoeira. Negro, pobre de recursos materiais, mas rico de recursos culturais, e discriminado, perseguido pela polícia, pelo preconceito, por outros capoeiristas... A mandinga é uma energia que vem da época em que o negro escravo precisava fugir da senzala e lutar pela liberdade e para isso contava com um auxílio divino. Então, por mais incrível que pudesse parecer, o escravo e o malandro conseguiam escapar das mais inacreditáveis situações...

Este é um assunto bastante complexo e espero voltar a tratar dele em breve. Para finalizar, por hoje, digo que a mandinga e a malandragem sempre serão pilares básicos nos fundamentos da capoeira. Espero que tenham bom senso e leiam este texto livres de preconceitos e mesquinharias... Axé!

(Soldado Capoeira)




Continua...



Bibliografia -pra quem se interessar indico estes livros:



Malandro Divino - a vida e a lenda de Zé Pelintra, personagem mítico da Lapa carioca, de Zeca Ligiero



Os fiéis da navalha, de Adriana Albert

9 comentários:

  1. Ola meu irmao..
    blog muito legal..na parte religiosa e da capoeira tambem...mas nao acho muito legal vc misturar as coisas não..capoeira é e sempre sera uma Luta e religião é religião...tanto que se vc nao treinar nao tem entidade certa pra te proteger..rs
    mas muito legal a iniciativa..mas nao ficou muito legal essa relação de religiosidade com a luta capoeira...
    abraçoooo

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  2. eu já sou de opinião contrária e acho muito interessante a interrelação entre as diversas formas de manifestação da cultura popular. A falta de conhecimento, infelizmente pode levar as pessoas a tentar minar essas relações que são tão produtivas em termos culturais e que levam a surgir novas ou fortalecer manifestações já existentes. Uma atividade cultural não se desenvolve num âmbito isolado, uma vez que é fruto da sociedade, marginal ou não, e a própria sociedade é um ecossistema das mais diferentes idéias.

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  3. Capoeira: Não é luta e sim uma dança, mas uma dança de defesa, que proteje a pessoa que a pratica.
    Zé Pilintra: Malandro, astuto e grande capoeirista... Eu, como médium de umbanda, posso afirmar: Zé pilintra e Capoeira andam juntos sim. Saravá Seu Zé Pilintra!

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    1. até podes está falando a verdade mas pelo meus conhecimentos e estudos afirmo que a capoeira não é uma dança.E sim uma luta,uma luta bem perigosa por sinal.

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  4. É, os escravos ficavam dançando quando encontravam o capataz nas fugas.!!!..
    Em sua essência Capoeira é luta sim...começou pela liberdade, e hoje, ainda lutamos por espaço e reconhecimento!
    Parabéns pelo blog!!

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  5. Adorei o blog e o post. Concordo �� com vc em tudo. Parabéns

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  6. A capoeira é arte,cultura,dança,luta,é a comunicação do corpo com o corpo; embora redundante, é a definição mais coerente no que diz respeito a expressão corporal em total envolvimento com a musicalidade da mesma.

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  7. Eu acho que Cristão de verdade não se envolver com isso,pois vai contra a palavra de Deus

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  8. Salve Soldado Capoeira, muita fortuna e caminhos abertos nesse seu blog. Quem passa conhecimento e cultura aos que não sabem merecê respeito e consideração.

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